sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Trabalho sobre linguagem de Videoclipe - Parte 2


1.2 – As possibilidades de uso da animação
O uso de animação abre possibilidades que não são possíveis com atores de verdade. Além dessas possibilidades há também algumas vantagens em relação a atores. Vou listas algumas abaixo:
- Não há necessidade de se contratar atores e figurantes e nem de pagá-los e de lidar com atrasos, horários e exigências dos mesmos; Todos os atores serão virtuais e não darão trabalho ao diretor;
- Não há necessidade de viajar para determinado lugar para se gravar o clipe, nem alugar sets e equipamentos de filmagem e nem ficar refém do clima para se gravar uma tomada. Todos os cenários serão construídos por computador;
- Fica muito mais fácil conseguir a iluminação desejada através do computador, que permite retocar as cenas a qualquer instante ou mesmo mudar toda a iluminação;
- Abre-se a possibilidade de criar cenas impossíveis com atores reais ou que gastariam muito dinheiro e tempo com efeitos especiais para serem realizadas;
- Uso de animais e seres imaginários com mais facilidade, bastando apenas desenhá-los e anima-los no computador;
- No caso de animais abre-se a possibilidade de humanizá-los, de forma que eles façam tudo aquilo que o diretor quer, ficando livre das limitações do uso de animais reais;
1.3 – Análise de videoclipes
Nessa unidade vou analisar os videoclipes “Túnel do Tempo”, do cantor Roberto Frejat, “Fell in love with a girl” da dupla White Stripes e “Clint Eastwood” da banda Gorillaz. Quero analisar quais as possibilidades exploradas com o uso da animação nesses clipes
1.3.1 – Túnel do Tempo.
Nosso encontro aconteceu como eu imaginava
Você não me reconheceu, mas fingiu que não era nada
Eu sei que alguma coisa minha, em você ficou guardada
Como num filme mudo antes da invenção das palavras
Afinei os meus ouvidos pra escutar suas chamadas
Sinais do corpo eu sei ler nas nossas conversas demoradas
Mas há dias em que nada faz sentido
E o sinais que me ligam ao mundo se desligam
Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá
Eu salto pro alto eu vou em frente
De volta pro presente
Sozinho no escuro nesse túnel do tempo
Sigo o sinal que me liga à corrente dos sentimentos
Onde se encontra a chave que me devolverá
O sentido das palavras ou uma imagem familiar
Mas há dias em que nada faz sentido
E os sinais que me ligam ao mundo se desligam
Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá
Eu salto pro alto eu vou em frente
De volta pro presente...
Roberto Frejat – Túnel do Tempo
frejat
A primeira impressão que se tem ao ler a letra é de que ela fala dos sentimentos de uma pessoa por outra. Por se tratar de Frejat, um cantor que geralmente aborda em suas letras, principalmente nas de sua carreira solo, o universo romântico, a primeira coisa que vem á cabeça é que a música fala sobre esse o amor entre um homem e uma mulher e que o videoclipe, por tabela, também.
No entanto a letra não deixa isso bem claro, abrindo brechas para interpretarmos que pode ser o amor entre pai e filho, amigos, entre um casal, etc. O clipe da música se aproveita dessa variedade interpretativa que a letra permite. Em vez de mostrar um casal apaixonado ou separado, um filho e sua mãe, amigos, etc, ele opta por mostrar os sentimentos de um homem que perdeu seu cachorrinho de estimação e também os sentimentos do cachorro perdido. Segundo Dias (2001): “A imagem não é visível, torna-se visível. As pessoas têm diferentes referências, que foram adquiridas ao longo de suas vida, através da tradição, dos costumes. O que é visto por uns nem sempre é visto por todos”.
Demonstrar os sentimentos do homem em relação ao cachorro seria fácil, mas mostrar os sentimentos do animal por estar perdido seria difícil com um cachorro de verdade. Com o uso da animação é possível humanizar os gestos e ações do cachorro, fazendo ele ficar mais parecido com uma pessoa. O jeito como o cachorro é construído graficamente permite que ele expresse facilmente seus sentimentos através do rosto.
Logo no começo do clipe aparece o dono procurando seu cachorro em um canil. Um outro cachorro que esta no canil esconde o cachorrinho perdido atrás de si, na esperança de se adotado no lugar dele. Essa cena com animais de verdade seria impossível, pois animais de verdade não fariam isso, e mesmo que fizessem, não seria da forma que foi feita no clipe, como cachorro grande escondendo o cachorro perdido atrás do seu corpo, numa cena digna de desenhos animados.
O cachorrinho perdido acorda ao ouvir a música tocada ao violão pelo seu dono, que entram “voando” na cela do canil aonde está preso. O cachorrinho que esta perdido tenta fugir do canil descendo por uma corda até o chão. O cachorro “malvado”, talvez por ciúme, corta a corda com uma tesoura. Desnecessário dizer que animais de verdade não fariam isso.
A queda do cachorro é amparada pelas cordas de um grande violão, enquanto a letra da música diz “eu sei que uma rede invisível irá me salvar/o impossível me espera do lado de lá/eu salto pro alto e vou em frente/de volta pra presente”. O impossível seria um violão gigante salvar o cachorro da queda. Logo após o cachorro se lembra das coisas boas que ele passou com seu dono e como ele se perdeu dele. A letra da música vai dizendo “Sozinho no escuro nesse mundo do tempo/sigo o sinal que me liga a corrente dos sentimentos/onde se encontra a chave que me devolverá/o sentido das palavras ou uma imagem familiar/mas há dias em que nada faz sentido/e os sinais que me ligam ao mundo se desligam”. Logo após o cachorrinho acorda e vê que conseguiu fugir do canil, “o impossível me espera do lado de lá”, como diz a letra.
Poderia continuar analisando esse videoclipe até o final mas até aqui já esta bom. A questão é, se não fosse utilizada a animação, o videoclipe teria o mesmo roteiro? Seria usada a relação de afeto entre um homem e seu animal de estimação para ilustrar a relação afetiva que a letra da música aborda? Eu acredito que não, pois seria muito mais complicado utilizar o mesmo roteiro sem o uso da animação.



Lia também: Trabalho de linguagem de Videoclipes parte 1

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